sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Como é a vida de um atleta de inverno no Brasil



Leandro Ribela sofre com a falta de patrocínio
Foto: Getty Images

Ser esquiador no Brasil não é fácil. O País tem clima tropical, a neve é escassa e cai em apenas em algumas cidades da Região Sul em períodos esporádicos do inverno e, por isso, as competições nacionais são realizadas nos vizinhos Argentina e Chile.

Além disso, não há muito interesse por parte do público e da mídia pelos esportes de inverno. Então por que alguns brasileiros tentam se tornar profissionais em modalidades tão distantes da realidade verde e amarela?

Leandro Ribela e Jaqueline Mourão falaram em Whistler, um dos maiores resorts de neve do planeta e palco de competições em Vancouver 2010, sobre os desafios de ser atleta no esqui cross-country.

A snowboarder Isabel Clark, porta-bandeira do Brasil em Vancouver, respondeu por email as questões levantadas pela reportagem sobre como é viver como esportista de neve. Os outros dois representantes do Brasil na competição são Jhonatan Longhi e Maya Harrisson, do esqui alpino, ambos criados e vivendo no exterior.

Jaqueline, 34 anos, parte para a sua quarta Olimpíada. A atleta disputou o mountain bike nos Jogos de Verão - Atenas 2004 e Pequim 2008 - e o esqui em Turim 2006. Mesmo sendo a única brasileira a ter esse histórico, a atleta do esqui cross country disse que não tem patrocínio e que precisa "se virar" para se manter como esquiadora.

"Nosso orçamento é bem apertado. O custo de viagens, treinamento é bem dispendioso. Eu tenho o Bolsa-Atleta também que me ajuda", disse Jaqueline. De acordo com o site da Caixa Econômica Federal, a ajuda mensal de custo para um atleta profissional (olímpico e paraolímpico) é de R$ 2,5 mil.

Jaqueline mora em Belo Horizonte e conta com o apoio do marido canadense Guido Visser, que reside no país dos Jogos, para os treinamentos e preparação do esqui. "Mas ele tem a sua vida fora do esporte para poder se sustentar e pagar as suas contas. Ele é engenheiro e faz tradução de textos técnicos do inglês para o francês. Outro dia ele teve de acordar às 5h (da manhã) para fazer o trabalho daqui (da Vila Olímpica)", comentou.

Ribela, 29 anos, por sua vez, é formado em economia e disse que, para poder seguir no esqui, também busca muitas vezes o apoio financeiro fora do esporte. Já trabalhou também como instrutor no exterior.

"Fiz trabalhos para uma consultoria americana. Sempre pego trabalhos curtos que podem me proporcionar maior renda e no menor tempo possível", disse o atleta, que foi contemplado com o programa Solidariedade Olímpica do COI e recebe apoio do Pinheiros.

"Hoje ninguém faz do esqui o ganha-pão. É pela paixão mesmo de ser um atleta olímpico. Ou surge algo para que possamos nos sustentar ou seremos sempre 'amadores'", completou.

Ambos, no entanto, fizeram questão de destacar o apoio técnico e financeiro, para competições e viagens, recebido pela CBDN (Confederação Brasileira de Desportes na Neve), especialmente na preparação para Vancouver. Mas pediram a maior presença da iniciativa privada e de empresas estatais no esporte.

Isabel, nona colocada em Turim 2006, parece ser uma exceção no esporte de neve. A atleta, 33 anos, tem patrocínios particulares e afirmou que não precisa mais, desde 2003, dar aulas particulares de snowboard.

"Depois que o sbx (prova do snowboard) virou olímpico passei a ter mais apoio da CBDN. Eles me passam verba do COB (Lei Piva), verba da FIS (Federação Internacional de Esqui) e no ano pré-olímpico, verba da Solidariedade Olímpica", disse.

Em contato com o Terra, na Vila Olímpica, o presidente da CBDN, Stefano Arnold, disse que os repasses do COB e o apoio da Solidariedade Olímpica do COI ajudaram muito no planejamento para Vancouver.

Ele citou, como um dos exemplos do trabalho da confederação, que houve um programa especial para Isabel Clark para que ela "tivesse uma preparação que não deixa nada a desejar a de outros rivais". Além disso, o dirigente disse que outros atletas brasileiros, como Leandro Ribela, foram apoiados com o programa especial do COI, exceto Jaqueline, que tem o "Bolsa-Atleta" do governo federal.

Arnold admitiu que ainda é preciso evoluir muito, mas destacou que o trabalho realizado foi fundamental para que contasse com os cinco atletas na Olimpíada e com expectativa para resultados satisfatórios, em Vancouver.

O COB (Comitê Olímpico Brasileiro), por meio de sua assessoria, informou que a entidade enviou à CBDN cerca de R$ 265 mil - dinheiro da Lei Agnelo/Piva - nos primeiros anos do ciclo olímpico, mas aumentou a verba para R$ 600 mil em 2009, ano de preparação para Vancouver 2010.

A entidade informou que contribuiu também em um programa especial para evolução do esquiador Jhonatan Longhi, que contou com apoio de especialistas, e que deve usar o projeto como exemplo para futuros atletas.

fonte: Anderson Giorge para o site Terra, direto de Whistler 
http://esportes.terra.com.br/vancouver2010/noticias/0,,OI4274357-EI14373,00-Como+e+a+vida+de+um+atleta+de+inverno+no+Brasil.html

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