A noite foi dos cariocas, em primeiro lugar (100 mil reais) “Leite Derramado” de Chico Buarque, em segundo (30 mil reais) “Outra Vida” de Rodrigo Lacerda e em terceiro (15 mil reais) “Lar,” de Armando Freitas Filho.
O anúncio do Prêmio aconteceu na noite de 8 de novembro, em São Paulo, com homenagem especial ao Nobel José Saramago, representado na cerimônia por sua esposa Pilar Del Rio e sua grande amiga, a escritora brasileira, Nélida Piñon.
“Leite Derramado” (Companhia das Letras), o quarto romance do compositor e escritor Chico Buarque, conta a história de um velho gagá, em um hospital que relata a sua vida para quem quiser ouvir. “Outra Vida” (Alfaguara/Objetiva) também é o quarto romance do escritor Rodrigo Lacerda, narra uma família em uma rodoviária tentando voltar para a cidade natal. “Lar,” (Companhia das Letras) do escritor Armando Freitas Filho, que não pode ir a cerimônia de entrega do prêmio por motivos de saúde, ganhou o terceiro lugar com poemas que representam peças espalhadas da vida oprimida de um menino no típico universo burguês dos anos 50 no Rio de Janeiro.
Os prêmios foram entregues em uma cerimônia com um novo formato. Inicialmente Shakhaf Wine, presidente da Portugal Telecom no Brasil, abriu a noite falando do compromisso da Portugal Telecom com o país e explicou a retirada de “Caim”, de José Saramago, da lista de finalistas. No palco, o apresentador Jô Soares, entrevistou o presidente da Portugal Telecom, Zeinal Bava, Pilar Del Rio e Nélida Piñon e por fim o grande vencedor da noite, Chico Buarque. Entrevistas com ar descontraído, característico do apresentador. Durante entrevista Zeinal Bava, ressaltou a importância do investimento na literatura de língua portuguesa e as ações há longo prazo desenvolvidas pela Portugal Telecom. Já Pilar e Nélida puderam relembrar histórias sobre a obra do Saramago, log o depois um trecho do documentário “José e Pilar” foi exibido para os convidados. Chico Buarque deu uma entrevista rápida, falou de futebol, literatura e sua vida como escritor e compositor.
Os vencedores foram eleitos por um Júri que escolheu por meio de voto secreto entre 10 obras finalistas as melhores publicações de 2009 no Brasil. A curadoria 2010 foi formada professor e pesquisador Benjamin Abdala, a professora Leyla Perrone-Moisés, o jornalista e crítico literário Manuel da Costa Pinto e a curadora-coordenadora do Prêmio Selma Caetano.
VENCEDORES 2010
Lar,
Armando Freitas Filho
Companhia das Letras
Em Lar, o poeta carioca Armando Freitas Filho, um dos nomes mais importantes da lírica brasileira, privilegia a memória como elemento central para a construção de seus poemas. A vírgula após o título serve de jogo de possibilidades poéticas: é como se a partir dessa célula inicial (Lar), o poeta parasse, suspendesse a fala, para depois compor a sua lembrança. Como ele mesmo chegou a dizer, este é o seu “Boitempo”, referindo-se ao ciclo de poemas memorialísticos de Carlos Drummond de Andrade. As peças espalhadas retratam a vida do menino oprimida pelo típico universo burguês dos anos 50, no Rio de Janeiro, entre a casa, a escola, a igreja e a praia.
Armando Freitas Filho nasceu no Rio de Janeiro, em 1940. É autor de Palavra, Dual, À mão livre, 3x4 (Prêmio Jabuti de Poesia, 1986), De cor, Números anônimos, Fio terra (Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Biblioteca Nacional, 2000), entre outros livros. Reuniu sua obra poética em Máquina de escrever (2003).
Outra vida
Rodrigo Lacerda
Alfaguara/Objetiva
Outra vida é o quarto romance do carioca Rodrigo Lacerda. Nele, o escritor, sem abrir mão do humor característico de suas narrativas, busca tratar da vida contemporânea a partir da história de um pequeno núcleo familiar, formado por um homem, uma mulher e sua filha de cinco anos. A ação dramática se passa numa rodoviária, com toda a família esperando a chegada do ônibus que a levará de volta para a cidade litorânea de onde vieram. Será o começo de uma vida nova, depois de um período difícil na cidade grande, quando o marido, funcionário de uma estatal, se meteu numa história de corrupção. Família, questões éticas, destino amoroso incerto: com esses elementos, Lacerda faz um retrato forte da vida brasileira contemporânea.
Rodrigo Lacerda nasceu em 1969, no Rio de Janeiro. Publicou os seguintes livros: O mistério do leão Rampante (novela, 1995, prêmio Jabuti e prêmio Certas Palavras de Melhor Romance), A dinâmica das larvas (novela, 1996), Fábulas para o séc. XXI (livro infantil, 1998), Tripé (contos, 1999), Vista do Rio (romance, 2004, finalista dos prêmios Zaffari & Bordon, Portugal Telecom e Jabuti), O fazedor de velhos (romance juvenil, 2008, prêmio de Melhor Livro Juvenil da biblioteca Nacional, prêmio de Melhor Livro Juvenil da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil; incluído no catálogo White Ravens), Outra vida (romance).
Leite Derramado,
Chico Buarque
Companhia das Letras
Em seu quarto romance, o escritor Chico Buarque criou mais um personagem marcante. Depois do narrador anônimo de Estorvo, do modelo fotográfico Benjamin Zambraia e do ghost writer José Costa, agora é a vez de um velho gagá com mais de cem anos, preso a um leito de hospital, de onde vai relatando, a quem quiser ouvir, a história de sua vida. A mão firme do escritor não escorrega um minuto e monta um verdadeiro quebra-cabeças, com pedaços de memória espalhados em mais de 200 páginas. A primeira linha narrativa é a história do narrador, Eulálio d’Assumpção, com sua mulher Matilde, que a certa altura do livro desaparece com sua cor morena, seu cheiro, sua dança, seu maxixe, sua beleza e mistério. E o pano de fund o é o Brasil do Império, da República, da ditadura militar, até os nossos dias, indo do escravismo ao universo da corrupção, e caindo de nariz e boca no atual tráfico de entorpecentes.
Chico Buarque nasceu no Rio de Janeiro, em 1944. Considerado um dos maiores compositores brasileiros da MPB, Chico também é dramaturgo e romancista. Sua trajetória ficcional começou com Fazenda Modelo, publicado em 1974. Mas foi somente nos anos 90 que essa vertente de sua obra ganhou a força e a dimensão que tem hoje, com a publicação dos romances Estorvo, Benjamin e Budapeste – todos traduzidos no exterior e adaptados para o cinema.
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