Strindberg recorre a um dos artifícios mais clássicos no teatro, o da carta desavinda – a do pai, já morto, a qual abre a verdade, a semente de todo o mal: acossada por dívidas, o que leva a família à ruína.
A necessidade leva mãe, filho, filha, genro e governanta a perambularem pelos corredores da casa remoendo suas angústias, passando humilhações, vexames, privações, fazendo revelações escandalosas e ouvindo insultos uns dos outros. Elise (Vera Monteiro) resolve favorecer o casamento da filha Gerda (Kim Kamberlly) com Axel (leo Arena), um dos seus credores.
A estranha tensão entre Elise e Axel não se resolve, mas torna-se clara a raiz da sensual ligação entre genro e sogra, e é Axel quem compõe o seráfico poema acerca do Pelicano, a hipnótica fábula em torno da mãe, Elise, a quem dedica os versos, em comovido envio durante o seu próprio casamento com Gerda. No final das contas, Fredrik (Bruno Araújo) revela à irmã, com a sua crescente alienação, que sua mãe é amante de seu marido. Explicada a ruindade passada, invertem-se as armas do combate, e é a tirania da filha, a castigar a passada exploração da progenitora.
Curiosamente, o despotismo que cresce célere na claustrofobia familiar, estende-se ao Genro, que, também ele, calca aos pés aquela que funcionara como mera alavanca para a sua ambição. Direção: Marcelo Barros
Mais informações: (21) 8603-8660
R$ 20,00 (pagamento em dinheiro), estudantes e idosos pagam meia.
De 09/04 a 28/05, somente aos sábados às 20h00
O Teatro Gonzaguinha (Centro de Artes Calouste Gulbenkian),
Rua Benedito Hipólito, 125 - Rio de Janeiro, (21) 8603-8660.
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