Lançamento será na ABI, dia 13, a partir das 16h, com a participação de jornalistas “sobreviventes de UH” que debaterão a importância do jornal fundado por Samuel Wainer
“A Ultima Hora (como ela era)”, escrito pelo jornalista Pinheiro Junior, será lançado no dia 13 de julho, quarta-feira, a partir das 16h, pela editora Mauad X, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI, Rua Araujo Porto Alegre 71, 9º. Andar, Esplanada do Castelo, Rio), durante simpósio comemorativo dos 60 anos de fundação do jornal de Samuel Wainer. O simpósio tem como tema “os sobreviventes”. A mesa principal será presidida por Maurício Azêdo, presidente da ABI, com a participação, entre outros convidados, dos jornalistas Pery Cotta, presidente do Conselho Deliberativo da ABI, Theodoro de Barros, Milton Coelho da Graça, Domingos Meirelles, Benício Medeiros e Pinheiro Junior. Além de jornalistas, estão convidados a participar do simpósito estudantes de comunicação, intelectuais e artistas. O diretor Cultural da ABI, Jesus Chediak, será o mestre de cerimônias do evento.
Segundo Pinheiro Junior “Ultima Hora encarnava Samuel Wainer, assim como SW era a própria encarnação de UH”. Uma redundância apenas aparente, explica ele, porque “neste caso a pessoa não existiria sem o objeto e vice-versa”. Mas como se tratava de um jornal de celebridades que marcaram a história, UH personificava também o presidente Getúlio Vargas, que deu o jornal de presente e como prêmio a SW, cuja famosa reportagem de sua autoria “Ele voltará”, publicada nos Diários Associados, antes da fundação de UH, cunhou decisivamente a campanha de eleição do criador do Estado Novo brasileiro.
Adianta Pinheiro Junior que “UH tinha a peculiaridade de popularizar políticos e estadistas, ao mesmo tempo em que trazia o povo ao encontro de celebridades, familiarizando-as com o homem da rua”. O teatrólogo-jornalista Nelson Rodrigues foi talvez o melhor dos exemplos até a deserção dele, numa ruidosa demissão do jornal que coincidiu com o fim da era JK. Mas se o presidente Juscelino Kubitschek preencheu em UH o vácuo financeiro e ideológico deixado pelo suicídio de Getúlio (1954), Nelson Rodrigues demitiu-se do jornal para ninguém jamais tomar o seu lugar como folhetinista ao sabor do povão. E o povo gostava de Nelson Rodrigues porque ele, o pretenso “reacionário”, escrevia “A vida como ela é” estigmatizando preconceitos e rancores sociais como um perfeito intelectual “progressista de esquerda”.
Há ainda dezenas de importantes personagens no livro “A Ultima Hora (como ela era)” com perfis bem delineados por Pinheiro Júnior, que durante 17 anos se fez editor e diretor de UH até seu fim em 1972, quando SW perdeu o jornal para próceres do governo militar.
Pinheiro Junior diz que este é um livro de jornalismo narrativo e de memória explícita, mas também é o romance não ficção de um jornal cercado de comédias, dramas e tragédias em suas páginas e no próprio dia a dia da redação. “Uma história fascinante e imperdível, representada ainda pelo escritor Moacir Werneck de Castro, mais que o redator-chefe, um verdadeiro condottière da difícil sobrevivência intelectual deste que seria o mais massacrado dos jornais brasileiros. “Massacrado primeiro por elites sempre à direita dos acontecimentos. Depois pela longa ditadura que levou fontes e inspirações de UH à inanição”.
“Ficou evidente que UH só podia continuar sendo UH enquanto mantivesse as características que a benzeram no nascimento como um jornal do povo privilegiado pela participação de intelectuais como Rubem Braga, Di Cavalcanti, Vinicius de Morais, Jorge Amado, Adalgisa Nery, Stanislaw Ponte Preta, Alex Vianny, José Louzeiro e Antônio Maria, entre muitos outros”.
O livro mostra que UH foi também um jornal de super-reportagens. Daí que o autor é exatamente o repórter que ganhou celebridade por desenvolver o que na época foi chamado de “jornalismo de cruzado” com campanhas que mobilizaram o País. Uma delas foi a famosa reportagem sobre a juventude transviada carioca, que marcou época em 1957.
O livro de Pinheiro Junior mostra ainda que nem tudo era dramático no jornal Ultima Hora. Porque lá estavam figuras gaiatas, gozadoras e piadistas que não se enquadravam em ideários por menos disciplinadores que fossem. Assim abasteceram de riso os episódios desta obra que divertem o leitor com o circo que abria sua lona na redação de UH e mobilizava comediantes, além de Nelson Rodrigues, como o editor Augusto Donadel e o repórter Amado Ribeiro. Alegre mas doloroso, este jornal empolgou o País enquanto os inimigos da liberdade deixaram que ele fosse autêntico. Por isso, a história (e lenda) de UH se confunde e se mistura com a própria história (e lenda) dos presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart, protagonistas privilegiados ao lado de dezenas de outras personalidades do jornalismo e da política de uma época das mais conturbadas da nossa História.
O prefácio do livro é do jornalista Maurício Azêdo, presidente da ABI, ele próprio dos mais marcantes redatores e colunistas de UH, ao lado de João Saldanha, Jacintho de Thormes (colunista social e comentarista esportivo), Geraldo Escobar, Aparício Pires e atletas insuperáveis como Ademir Menezes e Ademar Ferreira da Silva, os quais emprestaram seu conhecimento às páginas de UH.
O autor de “Ultima Hora (como ela era)” – jornalista José Alves Pinheiro Júnior – foi durante 17 anos repórter, redator, editor e por fim diretor responsável do jornal que SW fundou. Passou pelas principais editorias de jornais do País, movimentou rádios e participou de redes de TV. Hoje escreve livros. Dentre os quais “Esquadrão da Morte” (Coordenada Editora de Brasília), “Mefibosete e outros absurdos” (Europa), “Aventuras dos meninos Lucas-Pinheiro” (Europa) e “Bombom Ladrão” (Auracom).
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