Ator em quase uma centena de peças, filmes e programas de TV, Tonico Pereira dá seu depoimento a Eliana Bueno-Ribeiro. A autora também conversou com amigos, familiares e colegas que conviveram com ele em suas quatro décadas de trajetória artística. O livro será lançado na Sala Calos Couto, anexo ao Teatro Municipal de Niterói, em noite de autógrafos com o autor, no dia 15 de abril, às 19h, dia que também estreia a peça “O Matador de Santas”, da qual o ator é o protagonista para três apresentações na cidade. Toda a renda com a venda do livro nesse dia será revertida em benefício do Retiro dos Artistas
No livro inclusive, Tonico Pereira e vários depoimentos de amigos, dão conta do tempo em que ele vivia em Niterói.. Começou teatro na UFF e foi morador do Rinque por muitos anos. Atravessou muito a baia da Guanabara para trabalhar no Rio e foi freguês assíduo do Angú do Gomes na praça XV, que por muitas vezes era a sua única e principal refeição.
Na TV, o bondoso e ingênuo Zé Carneiro, do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, encantou gerações de crianças e adolescentes entre as décadas de 1970 e 1980. Recentemente, o seu Mendonça, que interpreta em “A Grande Família”, fascina telespectores de todas as idades sintonizados na TV Globo nas noites de quinta-feira. Na pele desses personagens inesquecíveis, como tantos que fez, há Tonico Pereira, um ator intuitivo, ao mesmo tempo simples e profundo, como o descrevem dezenas de amigos, ex-colegas de trabalho, diretores de TV, cinema e teatro, em Tonico Pereira – Um Ator Improvável, título da Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, entre outros.
Para Eliana Bueno-Ribeiro, autora do livro, Tonico Pereira é um ator popular, na acepção mais ampla do termo. “Quer dizer que é de todos os tempos e nunca pertenceu a nenhuma classe ou grupo social e sempre, certamente, fora das classificações. Eternamente velho e eternamente jovem. É um profissional ao mesmo tempo organizado e anárquico, que parece temer ser levado a sério demais, levar-se a sério demais. Sistematicamente, trata de quebrar com alguma brincadeira todo e qualquer discurso que possa soar mais solene. Circula entre diversas culturas e diferentes níveis da língua com a leveza dos saltimbancos que tanto admira”, explica Eliana.
Tonico Pereira nasceu em 22 de junho de 1948 em Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro. Já na pré-adolescência descobriu o cigarro, o sexo e o futebol. Magrinho, tinha fama de brigão, daí o curioso apelido, “Vaca Brava”. Gostava de fazer trovas. Com uma delas, venceu até um concurso em sua cidade: “Da vida nada se leva/a A não ser recordação/ Porque se algo mais levasse/Não daria no caixão”.
Quase por acaso, começou a fazer teatro com o Grupo Laboratório, ligado ao Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense, em Niterói. “Não fiz nenhum esforço para ser ator, não cursei nada, isso foi um puro acidente na minha vida. A profissão foi acontecendo e até hoje desconfio que ainda não sou ator. Tanto é que tenho alternativas. Crio alternativas, perco dinheiro com elas para ver se me dão segurança com relação a exercer a profissão de ator correndo o risco de um dia ficar desempregado. Só que até hoje nunca fiquei desempregado e o ator é que sustenta as outras atividades”, explica Tonico Pereira. Na tentativa de garantir o futuro com mais segurança, já foi dono de peixaria, livraria, bar e loja de parafusos.
Tonico Pereira conta que sua formação teatral foi como espectador. E a intelectual, toda feita de trocas em mesa de bar. Diz odiar laboratórios de personagem. Com Skakespeare e Molière, tem uma relação próxima, e não aquela distante, dos intelectuais. É ele mesmo quem se define como ator “improvável e de aluguel”.
Além dos depoimentos à autora, vários textos seus são reproduzidos no livro. Num deles, define o papel da arte: “A maioria entra em cena, alguns poucos são atores, muito poucos modificam o homem. São os artistas”. Com quase uma centena de papéis na TV, no teatro e no cinema, Tonico Pereira impressiona pela vitalidade, apesar de alguns sustos: dois cânceres de bexiga e um tumor benigno no pulmão. “Eu nasci a fórceps. Espero ser recompensado: morrer a fórceps”, brinca, em mais um dos seus escritos.
Entre os vários depoimentos há o do diretor de teatro Aderbal Freire-Filho, que descreve Tonico Pereira como “a versão ator de Nelson Rodrigues”. Já o cineasta Walter Lima Jr o vê como “um ator espontâneo, de formação teatral, mas com carisma cinematográfico e suficiente habilidade para manter-se minimal na tela grande, onde cresce como excelente ator que é”
Serviço:
Noite de autógrafos – Sala Carlos Couto
Data: 15 de abril
Horário: 19 horas
Entrada Franca
Local: Sala Carlos Couto
Endereço: Rua XV de Novembro, 35, Centro (anexo ao Teatro Municipal).
2620-1624